terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Acrópole – mais uma busca frustrada.


Acrópole – mais uma busca frustrada.
Tudo está dentro do homem e é inútil procurar salvação longe de si mesmo”


A busca de nosso amigo Ricardo do Vale por alguma coisa que some conhecimento e sabedoria à sua vida terminou numa noite completamente estapafúrdia neste sábado passado.
À tarde, Ricardo foi a uma capela católica que julgava “o lugar do meu Eu Original” porque nascera no quartel onde fica a capela. Entre músicas animadinhas e jovens falando pelos cotovelos Ricardo não ficou um minuto a mais ali – saiu, alegre, escutando Killers – vou beber.


A Acrópole da filosofia
15/11/08 Sáb. Blues 9:04
Simplesmente, após ir a uma capela católica e me decepcionar comigo mesmo e não com a igreja e seus pupilos adolescentes que fazem crisma e secretamente se masturbam até subirem pelas paredes...


Ele jantou muito bem e saiu, escutando Sepultura. Jamais abandonaria sua fé. Fora expulso de uma igreja na qual trabalhou ardentemente durante 10 anos de sua vida. Expulso porque “você não pensa como nós”. O ótimo foi que Ricardo não trabalhava para as pessoas. Nem para si. Para quem então? Para a Mãe, ainda que naquela época a conhecesse pelo nome de Pai.
Andou na praia. Comprou uma garrafa de vinho Country Wine, personagem célere de seu primeiro romance, Miriam.
E começou a beber o delicioso vinho.


... fui a uma Acrópole – enfim, uma Escola de Filosofia – cursos de Filosofia e Sabedoria Pura, como estudar, como ler.
Ao entrar, me deparei com um jardim, mais parecido com os jardins de Epicuro – fontes, plantas – e estátuas as mais diversas. Ultrapassados os Umbrais deste Templo do Conhecimento, me deparo com uma cesta de revistas, panfletos, papéis sobre Sabedoria – tudo PAGO. Frustrei-me. Esta, a Sabedoria, paga?!
Uma mulher me recebeu, a Mestra, aparentemente masculinizada ...


Quando a Lua saiu Ricardo realizou mais um sonho de sua vida – ver a lua cheia nascer. Nutrira este sonho durante anos a fio, desde que vira a Lua cheia no final de uma tarde, casualmente.
Enquanto a Lua nascia, ele se rejubilava – e se entupia de vinho, julgando-se um mago. E por que não?
“Eu sou um bruxo, enfim”, pensou. “Um Mago”. Tentara as religiões, mas nada. Como percebera que estava entrando em mais uma crise de loucura, tentou amenizar e disse: “Não sou bruxo. Que é um bruxo? Os wiccanos certamente fazem a mesma coisa que se faz nas igrejas pelas quais passei: se reúnem para conversar banalidades e fazer rituais. O que eu sou então? Eu sou.”
“O Universo é a minha igreja.”
A estas alturas, a Mestra, as fontes epicuristas, aquele templo feito de tenda de praia, a piscina com inscrições de Buda e os saquinhos de chá pareciam elementos distantes de outro mundo.
Foi quando ele viu o Sinal.


- Já deu seu e-mail? – disse a mulher masculinizada.
Prudentemente não dei o e-mail. Observei as revistas cozinha água chás piscina estátuas filosóficas mangueirinhas e até máscaras – e os ouvintes, quase todas mulheres loiras, botox, sorrisos artificiais, buscando algo, uma resposta – que jamais será encontrada e infinitamente menos num Curso de Filosofia Prática onde o lema interessantíssimo é: HOUVE UM TEMPO EM QUE A FILOSOFIA ERA PRÁTICA... ESSE TEMPO VOLTOU.
A submestra nos homenageou com 4 ininterruptas poesias falando da Beleza.Eu tenho absoluta certeza de que as pessoas que vivem falando de beleza em poesia são completamente frustradas porque gostariam de namorar alguém a quem nunca dirigiram uma palavra. Pode ser um julgamento, mas julgo primeiro a mim porque eu vivi 15 anos neste estado patético.
A entonação da submestra, seu Desejo, era tão premente que algumas das mulheres presentes sorriam, ainda que de forma patética ou mesmo incitada pelo Prozac.


Uma coruja branca parou diante de Ricardo e ficou estática no ar. Havia então a Lua, que a estas alturas estava bela, e a coruja. Era o Sinal.


Um sinal é uma coincidência. É apenas outro nome para coincidência; neste caso, um nome espiritualizado. Se tudo é Acaso, louvemos a este Deus – o Acaso – que é capaz de fazer uma coruja parar na frente de um ser humano (bêbado) e (corta).
Ele andou, foi pro blues e sentou numa mesa para escrever. Após escrever algo sobre a palhaçada na Escola de Sabedoria, continuou:



A Mestra entrou. Seu sorriso era benzodiazepínico, seu cabelo, preto, e sua roupa baixoautoestímica. Ela entrou – após a sessão inesgotável de poesias das Musas Gregas evocando deusas que não existem no entanto na mente de um(a) filósofo(a) existem – e deu a sentença.
- Falaremos sobre Buda.
Ela tinha cara de quem estava pensando em QUALQUER coisa – sei lá, na filha que saiu e gritou, no marido inorgástico, na péssima imagem de seu templo filosófico – MENOS EM BUDA. Seu interesse era zero.
A Mestra, que na verdade era Psicóloga, discorreu de forma resumida a história de Gautama – uma história que as pessoas adoram ler, falar, comentar, dissecar com seus palavrórios inúteis, MENOS PRATICAR. Falou, adaptou, disse que tirássemos lições para nós – em outras palavras, não precisa levar isso a sério demais, aproveite alguma coisa pra não pirar e para sair da depressão matinal –“sem levar a sério demais”.
Eu levantei e fui embora comprar uma garrafa de vinho.


Andou, foi pro blues, bebeu uma Heineken, jogou xadrez com um rapaz de 19 anos absolutamente educado, gentil e nobre. O rapaz, vendo que Ricardo fora “humilhado pelo meu professor de xadrez quando eu tinha 15 anos e” (melodrama inconsciente) passou gentilmente a ensinar-lhe algumas jogadas e depois chamou-o para junto de seus amigos para jogar sinuca. Ricardo não foi. Foi para o balcão. Segundo sua sabedoria deliróide, ficar no balcão era símbolo de que “Ele vai ver que não estou na cola dele”. Comentários à parte, Ricardo encheu a cara e com a maior naturalidade deu um papel com nome telefone e msn ao rapaz, que recebeu gentilmente. Ainda existem cavalheiros neste mundo enfim.
- Eu vou me suicidar!!! – disse Ricardo a Cronos. A estas alturas ele estava absolutamente bêbado.
Cronos ficou preocupado, até por causa do “histórico” de Ricardo com problemas pessoais, mas sorriu, pois sabia exatamente o que estava acontecendo – Ricardo estava sendo ele mesmo. Já não era o “mestre” que dá lições a todo mundo, sentando de forma bipolar no meio de uma pista movimentada ou lendo livros depressivos no inverno. Era o Ricardo original, cheio de dúvidas, medos e conflitos; um ser humano!
Ricardo nunca quis ser mestre de ninguém. Nem seguir mestre algum. Mas, no fundo de seu ser, queria ensinar aos integrantes do Nya a seguinte lição: o que você sabe, pratique, senão seu conhecimento se voltará contra você e o dilacerará.
Enchera o saco. Vira na igreja, durante anos a fio, os pastores pregando coisas que nem eles nem os outros vivem. Passara então a viver uma vida de risco, dando até seu MSN a um rapaz que sequer conhece. Mas ele tem uma capacidade incrível de ver a aura dos outros.
“Ninguém sabe quem é ninguém”.
Mentira.
Conhecemos as pessoas pelo que falam, comem, bebem, pelos lugares que freqüentam, e principalmente pela forma como tratam os pais.
As mentiras religiosas dilaceraram Ricardo a ponto de ele entrar num colapso nervoso. Ele não entendia como poderia vir a ser puro e, neste transtorno bipolar espiritual, oscilava do libertino ao santo tantas vezes que a coisa já virara uma piada barata.
Retornara ao catolicismo, cristais, magia, budismo, enfim, nada o satisfazia.
Porque ele já estava satisfeito.
Mas você tem que ter mais. A ambição espiritual de Ricardo nunca foi pelo Poder. Teve três experiências sobrenaturais, que serão relatadas na hora certa. Mas ele só queria o Dom Supremo. O Amor. E queria externar este amor na igreja. Externou. E foi excomungado.
Porque é melhor gritar, odiar e comer vivo o outro. Mas amar é pecado, sujeira.
- Eu vou me suicidar!!!
Cronos deu-lhe água, ele nem sabia o que estava fazendo, e vomitou. Após vomitar, deu um belo discurso, bem coerente até, e foi aos trancos para casa – não sabe sequer como caiu na cama.


XXXIII DOM. COMUM (Cor Verde, I semana do saltério)


Ricardo do Vale

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"[...] não dá pra evitar simplesmente um sentimento apenas pela aparente possibilidade do erro em pensar positivo; pode ser que eu esteja errado, mas a única coisa que irá refletir minha conquista ou o meu fracasso é o futuro. por isso que eu tento."

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Princípio Divino


"Assim como a obra de um artista é a manifestação visível da natureza invisível de seu autor, toda criação é um "objeto substancial" da deidade invisível de Deus, o Criador. Sua natureza é demonstrada em cada criação. Assim como nós podemos sentir o caráter de um autor através de suas obras, podemos perceber a deidade de Deus pela observação de Sua criação.

"Para conhecer a natureza da deidade de Deus, vamos examinar fatores comuns, que podem ser encontrados em Sua criação. Uma criação, seja lá qual for, não pode vir a existir até que se realize o relacionamento recíproco entre positividade e negatividade, não somente dentro de si mesmo, mas também em relação a outros seres. Por exemplo, partículas, que são os componentes essenciais de toda matéria, têm positividade, negatividade e neutralidade, sendo esta produzida quando o positivo e o negativo se neutralizam. Quando as duas características entram em relacionamento recíproco, estas partículas formam um átomo.

"Todo átomo assume as características de positividade ou negatividade e, à medida que as características duais em cada átomo produzem relacionamentos recíprocos com outros átomos, eles formam moléculas materiais. A matéria, que é formada desta maneira - de acordo com o relacionamento recíproco entre estas duas características - torna-se nutrimento para animais e plantas, quando é absorvida por eles.

"Todas as plantas existem e se multiplicam através de um relacionamento que ocorre entre o estame e o pistilo, enquanto o mesmo ocorre no mundo animal através de relacionamento entre o macho e a fêmea. 

"Com respeito ao homem, Deus criou um homem (masculino), Adão, no início; então, vendo que não era bom que o homem estivesse só (Gn 2.18), fez a mulher (feminino), Eva, como objeto de Adão, e pela primeira vez Deus viu que sua criação era "muito boa" (Gn 1.31). Assim como um "íon" positivo ou negativo, mesmo depois da dissociação, é de fato a combinação de próton (positivo) e elétron (negativo), o estame e o pistilo da planta, e o macho e a fêmea do reino animal podem também existir somente através de um relacionamento recíproco entre suas essencialidades duais de positividade e negatividade. Assim também há uma característica feminina latente em todo homem, e uma essência masculina em toda mulher. Os aspectos de todas as coisas na criação existem em uma base recíproca, tal como dentro e fora, interno e externo, anterior e posterior, direito e esquerdo, superior e inferior, alto e baixo, forte e fraco, longo e curto, largo e estreito, leste e oeste, sul e norte. Isto é porque todas as coisas foram criadas para existirem através de um relacionamento recíproco entre suas essencialidades duais.

"Como vimos, todas as coisas existem através de um relacionamento recíproco entre as essencialidades duas de positividade e negatividade. Devemos, além disso, conhecer o relacionamento recíproco entre outro par de essencialidades duas, que é mais fundamental ainda do que o de positividade e negatividade. Tudo na existência tem tanto forma externa como caráter interno. A forma externa é visível e reflete o caráter interno, que é invisível. Embora o caráter interno não possa ser visto, ele assume uma certa forma de modo que a forma externa vem a assemelhar-se ao caráter interno quando aparece numa forma visível. O "caráter interno" e a "forma externa" referem-se aos dois caracteres, que são os dois aspectos relativos da mesma existência. Neste relacionamento, a forma externa pode também ser chamada de "segundo caráter interno", de modo que juntos nós o chamamos de "características duais" ou "essencialidades duais".

"Podemos tomar o homem como um exemplo. O homem é formado de corpo, a forma externa, e mente, o caráter interno. O corpo visível se assemelha à mente invisível. O corpo assume a forma que se assemelha à forma projetada pela mente. Eis a razão porque se podem julgar o caráter e o destino invisível do homem por sua aparência externa. Chamamos à mente de "caráter interno", e o corpo de "forma externa". Aqui também, sendo nossa mente e nosso corpo dois aspectos relativos do mesmo o homem, o corpo pode ser chamado de "segunda mente", ou uma duplicação da mente. Juntos, damos a eles o nome de "características duais do homem". Agora podemos entender o fato de que tudo existe através de um relacionamento recíproco entre as duas características de caráter interno e forma externa."

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tomadas de força

Partindo da certeza de que toda atitude é suscetível de ser imitada, compreendamos que o contágio da violência, em muitos casos, pode ser evitado, se não lhe oferecemos determinados pontos de ligação.

Os pontos a que nos referimos são de caráter diversos, tais quais sejam:
Gritos inúteis.
Brincadeiras de mau gosto.
Reclamações agressivas.
Ideias de ódio.
Intolerância em casa.
Descortesias na rua.
Gestos de vingança.
Comentários infelizes.
Respostas deprimentes.
Perguntas sem necessidade.
Críticas.
Palavrões.
Azedume. 
Cólera.
Impaciência.

Observemos que a energia elétrica, quase sempre, se aplica através de tomadas e convençamo-nos de que a força mental funciona, também, assim.

(Emmanuel)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O caminho do meio


1. Aqueles que estão trilhando o caminho da Iluminação devem evitar os dois extremos. Primeiro, o extremo da indulgencia para com os desejos do corpo. Segundo, o extremo oposto que os leva a renunciar esta vida, praticar a disciplina ascética e torturar, sem razão alguma, seus corpos e mentes.

O Nobre Caminho, que transcende estes dois extremos e conduz à Iluminação, à sabedoria e à paz da mente, pode ser chamado de o Caminho do Meio? Consiste ele de Oito Caminhos Nobres, a saber: Percepção correta, pensamento correto, fala correta, comportamento correto, meio de vida correto, empenho correto, atenção correta e concentração espiritual correta.

Como já foi dito, todas as coisas aparecem ou desaparecem motivadas por uma infindável série de causas. Os néscios consideram a vida como existência ou nãoexistência, mas os sábios a consideram como algo que transcende a existência e a nãoexistência; este é um procedimento do Caminho do Meio.

2. Suponhamos uma tora flutuando num rio. Se ela não encalhar, não afundar, não for retirada por um homem ou não se apodrecer, alcançará certamente o mar. A vida é como esta tora apanhada pela corrente de um grande rio. Se uma pessoa não se apegarse à vida de auto indulgencia ou, renunciando a esta vida, não se dedicar à vida de autotortura, se não se envaidecer com suas virtudes ou não se apegar aos seus maus atos; se na busca da Iluminação souber respeitar a delusão e não temer; esta pessoa estará trilhando o Caminho do Meio.

O importante, quando se está seguindo o caminho da Iluminação, é evitar ser apanhado e envolvido por um dos extremos, e seguir sempre o Caminho do Meio.

Sabendo-se que as coisas nem existem e nem são não-existentes, lembrando-se da natureza onírica de tudo, deve-se evitar todo o orgulho pessoal ou a exaltação dos bons atos, ou ainda, ser apanhado e envolvido por toda e qualquer coisa mais.

Para se evitar ser apanhado pela corrente dos desejos, deve-se aprender, desde o princípio, a não se aferrar às coisas, a fim de que não se acostume nem se apegue à elas. Não se deve apegar nem à existência nem à não-existência, nem a qualquer coisa interior ou exterior, nem às boas como às más coisas, nem ao certo nem ao errado.

A vida de ilusão começará a partir do momento em que houver apego às coisas. Aquele que está seguindo o Nobre Caminho para a Iluminação não deve nutrir tristes recordações daquilo que passou, nem deve antegozar o futuro, deve, isto sim, com uma mente justa e tranqüila, acolher aquilo que vier.

3. A Iluminação não possui forma ou natureza definidas, com as quais ela pode se manifestar, porque na própria Iluminação não há nada a ser esclarecido.

A Iluminação existe unicamente porque existem a ilusão e a ignorância, se elas desaparecerem, a Iluminação também desaparecerá. O oposto é verdadeiro, isto é, a ilusão e a ignorância existem porque existe a Iluminação; quando cessar a Iluminação, a ignorância e a delusão também cessarão.

Portanto, não considerem a Iluminação como uma “coisa” a ser aferrada, a fim de que ela não se torne também um impecilho. Quando uma mente anuviada se ilumina, as trevas desaparecem e com elas a “coisa” a que chamamos Iluminação também deixa de existir.

Se os homens desejam e se apegam à Iluminação, isto significa que eles ainda alimentam a delusão; aqueles, portanto, que estiverem trilhando o caminho da Iluminação não deverão a ela se apegar, e, uma vez alcançada a Iluminação, nela não mais deverão pensar.

Quando se atingir, de fato, a Iluminação, poder-se-á ver que tudo encerra, em si mesmo, uma Iluminação; portanto, deve-se seguir o caminho da Iluminação até que se conclua que as paixões mundanas são, em si mesmas, Iluminação.

4. Este conceito da unidade universal - que as coisas, em sua natureza essencial, não possuem marcas distintas - é chamado de “Sunyata”. Por sunyata entende-se a não substancialidade, a não existência, algo que não tem natureza própria nem dualidade. Pelo fato de as coisas não possuírem, em si mesmas, nenhuma forma ou características, é que podemos dizer que as coisas não nascem nem se destroem. Nada existe na
natureza essencial as coisas que possa ser descrito em termos de discriminação; eis porque as coisas são consideradas não substanciais.

Como já foi mencionado, todas as coisas aparecem e desaparecem pelo concurso das causas e condições. Nada existe inteiramente só; tudo se interelaciona.

Onde há luz, há sombra; onde há extensão, há pequenez, onde há branco, há preto. Como estas oposições, a própria natureza das coisas não pode existir sozinha, eis porque as coisas são chamadas de não substanciais ou sunyata.

Conclui-se, pois, que a Iluminação não pode existir à parte da ignorância, nem a ignorância, à parte da Iluminação. Se as coisas não se diferenciam em sua natureza essencial, como pode haver dualidade?

5. Os homens, habitualmente, relacionam-se a si mesmos e a tudo com o nascimento e a morte, mas, na realidade, não há tais concepções. 

Quando os homens compreenderem, esta verdade, aperceber-se-ão da verdade da não dualidade: do nascimento e da morte.

Os homens, porque nutrem a idéia de um ego, apegam-se à idéia de posse; mas, como não há um “eu”, não pode haver um meu”, se puderem compreender esta verdade, poderão, então, compreender a verdade da não dualidade.

Os homens fazem a distinção entre pureza e impureza, mas na natureza das coisas, não existe tal distinção, eles a criam, levados pelas falsas e absurdas imaginações.

Da mesma maneira, não pode haver distinção entre o bem e o mal, pois não há nenhum bem ou mal existindo separadamente. Aqueles que estiverem trilhando o caminho da Iluminação deverão reconhecer esta não dualidade, a fim de que não sejam levados a louvar o bem e a condenar o mal, ou a desprezar o bem e indultar o mal.

Os homens temem, naturalmente, o infortúnio e almejam a felicidade; mas, se estudarmos cuidadosamente esta distinção, verificaremos que o infortúnio, muitas vezes, se torna felicidade e que a ventura se torna infelicidade. O sábio aprende a encarar as cambiantes circunstancias da vida, com uma mente imparcial, não se exaltando com o sucesso nem se deprimindo com o fracasso. Assim se compreende o princípio da não dualidade.

Todas estas palavras que expressam relações de dualidade como a existência e não existência, paixões mundanas e verdadeiro conhecimento, pureza e impureza, o bem e o mal - todos estes termos de contrastes não são expressos nem conhecidos em sua verdadeira natureza. Se os homens se afastarem destas palavras e das ilusões por elas causadas, poderão compreender a verdade universal de Sunyata.

6. A pura e fragrante flor de lótus desenvolve-se melhor na lama de um pântano do que num terreno limpo e firme; da mesma maneira, a pura Iluminação de Buda surge do lodo das paixões mundanas. Assim, mesmo os mais absurdos pontos de vista e as ilusões das paixões mundanas podem ser as sementes da Iluminação de Buda.

Assim como um mergulhador, para garantir suas pérolas, deve descer ao fundo do mar e arrastar todos os perigos que lhe oferecem os pontiagudos corais e os malévolos tubarões, o homem deve enfrentar os perigos da paixão mundana, se ele quiser obter a preciosa pérola da Iluminação. Primeiro ele deve estar perdido entre os íngremes penhascos do egoísmo e do amor próprio, para depois sentir o desejo de procurar um caminho que o leve à Iluminação.

Um a lenda nos dá conta de que um eremita, que tinha grande desejo de encontrar o verdadeiro caminho, escalou uma montanha de espadas, jogou-se em uma fogueira, a elas sobrevivendo por causa de sua grande fé. Aqueles, pois, que estão arrostando os perigos do caminho encontrarão uma fresca e suave brisa soprando nas escarpadas montanhas do egoísmo e entre os fogos do ódio e, por fim, compreenderão que o egoísmo e as paixões mundanas, contra os quais lutou e sofreu, são a própria Iluminação.

7. O ensinamento de Buda nos conduz do conceito discriminador entre dois pontos de vista conflitantes à não dualidade. Será , portanto, um erro os homens buscarem uma coisa tida supostamente como boa e certa, e evitar outra supostamente iníqua e nociva.

Aquele que insiste em afirmar que tudo é vazio e transitório incorre em erro, assim como errará aquele que insistir em afirmar que todas as coisas são reais e imutáveis. O apego ao ego, fonte do descontentamento e sofrimento, é um erro, assim como o é a crença na não existência do ego; tudo isso é inútil para aquele que pratica o caminho da Verdade. A afirmação de que tudo é sofrimento é um erro; assim como será a afirmação de que tudo é felicidade. Buda ensina o Caminho do Meio, onde a dualidade se funde em unidade, e que transcende estes conceitos extremados.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Gente que não se garante cria problema.

Distropya


Distopya

Innocense
Hoping to get a breath
Wishing some bleed and death
Hungry of lying

And its face
Changing from white to black
Moving inside a head
Darker than mine

Belligerence
Something that occurs and then it fade away
In disguise, it tries to find another place
Feeding me just to try on... again

This feeling inside my head
Consuming my heart instead
Starting, it was pain though
But followed close upon
Becoming my better half

I am real
I am real
I'm my own nightmare
(my own nightmare)

A sort of imagination
Overcoming this transition
Just destroying contributions
From this (madness)

I am real
I am real
I'm my own nightmare
(my own nightmare)

I am real
I am real
I'm my own nightmare
(my own nightmare)

This feeling inside my head
Consuming my heart instead
Starting, it was pain though
But followed close upon
Becoming my better half (it's my half)

Atos Ribeiro

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sinal de alerta


"A irresponsabilidade humana se expressa em todos os sentidos da vida, e se manifesta com surpreendentes características quando o assunto é a cura de si próprio. A procura por soluções fáceis e rápidas, como um remédio, uma terapia que proporcione um "ajuste" ou "conserto" do organismo, a entrega de si a um agente de saúde, um médico, um terapeuta, um guru, etc., é quase ou totalmente absoluta: "tome, conserte-me, para eu continuar a fazer, pensar ou sentir da mesma forma que venho fazendo".


Se o terapeuta pede ou exige uma mudança em hábitos, costumes ou atitudes, as coisas já começam a se complicar. É impressionante como algumas das pessoas conhecem as causas da maioria dos seus males. Por exemplo: se perguntamos a alguém que tem uma úlcera duodenal se sabe o motivo, ele responde prontamente: "acho que é porque tenho andado nervoso, tomo muito café, fumo demais e como muitas bobagens". Se perguntamos a outro com lesões coronárias se ele sabe o porquê daquilo, prontamente: "a minha vida sempre foi muito irregular, sou sedentário, fumo demais, gosto de alimentos gordurosos, enfim, sou muito relaxado".


Assim, pensamos, qual é então o motivo de se procurar um especialista? A maioria das pessoas procura um cúmplice para justificar as suas transgressões às leis naturais.


A doença é um aviso sutil de que algo está errado e precisa ser corrigido e esta correção só é total quando a consciência se responsabiliza por inteiro. Uma dor ou um sofrimento é sinal de alerta: muda - reflita - aprenda - ame - e quando esta lição é aprendida, o mal, o sofrimento deixa de existir. Portanto, não existe heterocura, mas somente autocura.


Auxiliar no processo, dar condições, esclarecer, é tudo o que podemos fazer pelos outros, mas a cura é uma conquista individual."

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma história zen

Goso Hoyen costumava dizer: "Quando me perguntaram o que é o zen, conto esta história:

Ao perceber que seu pai estava envelhecendo, o filho de um arrombador de casas pediu que este lhe ensinasse o ofício, para que ele pudesse dar continuidade aos negócios da família depois que o pai se aposentasse. O pai concordou, e naquela noite os dois invadiram uma casa juntos.

O pai abriu um grande baú e pediu ao filho que entrasse ali e pegasse roupas. Assim que o rapaz entrou, o pai trancou o baú e fez um barulhão para despertar todos os moradores da casa. E fugiu, em silêncio.

Preso no baú, o rapaz estava zangado, apavorado e intrigado, sem saber como sair. De repente, teve uma ideia - fez um som imitando um gato.

A família mandou a empregada pegar uma vela e examinar o baú. Quando a tampa foi aberta, o rapaz saltou para fora, assoprou a vela, empurrou a empregada assustada e saiu correndo. As pessoas correram atrás dele.

Ao ver um poço ao lado da rua, o jovem jogou uma pedra grande e se escondeu na escuridão. Os perseguidores cercaram o poço, tentando ver o arrombador se afogar.

Quando o rapaz chegou em casa, estava muito bravo com o pai e tentou lhe contar a história, mas o pai disse: 'Não precisa me falar dos detalhes. Você está aqui - aprendeu a arte.'"

terça-feira, 3 de julho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Tilopa

A CANÇÃO DE MAHAMUDRA


Mahamudra está para além das palavras e símbolos,

mas para ti, Naropa, sério e leal,

isto deve ser dito:


O Vácuo não precisa de confiança,

Mahamudra repousa sobre nada.

Sem fazer esforço,

mas permanecendo desprendido e natural,

é possível quebrar o jugo,

ganhando, assim, a Libertação.


Se alguém nada vê quando contempla o espaço,

se com a mente alguém observa a mente,

esse alguém destrói distinções

e alcança o estado de Buddha.


As nuvens que vagueiam pelo céu

não têm raízes, nem lar,

também assim são os pensamentos distintivos

vagando através da mente.

Desde que a mente-eu é vista,

cessa a discriminação.


Formas e cores formam-se no espaço,

mas o espaço não é tingido nem pelo branco, nem pelo preto.

Da mente-eu todas as coisas emergem,

e a mente não é manchada nem por virtude, nem por vícios.


As trevas dos tempos

não podem amortalhar o sol fulgente;

os longos kalpas do samsara

jamais podem esconder a luz brilhante da Mente.


Embora palavras sejam ditas para explicar o Vácuo,

o Vácuo, tal como é, jamais pode ser explicado.

Embora digamos que a Mente é uma luz brilhante,

ela está para além de todas as palavras e símbolos.

Embora a Mente seja vazia em sua essência,

contém e abarca todas as coisas.


Nada faças com o corpo, mas relaxa;

fecha com firmeza a boca e permanece silente;

esvazia a mente e em nada penses.

Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.

Sem dar nem tomar, repousa tua mente.

Mahamudra é como a mente que a nada se prende.

Assim praticando alcançarás, em tempo, o estado de Buddha.


A prática do mantra e do paramita,

a instrução em sutras e preceitos,

o ensino das escolas e das escrituras,

não levarão à percepção da Verdade Inata.

Porque, se a mente, quando tomada por algum desejo,

procura encontrar um objetivo,

apenas oculta a Luz.


Aquele que observa os preceito tântricos, ainda discrimina,

trai o espírito de samaya.

Cessa toda atividade, abandona todos os desejos,

deixa que os pensamentos subam e desçam,

coisa que eles farão, como ondas no oceano.

Aquele que nunca prejudica o não-perdurável,

nem o princípio da não-distinção,

defende os preceitos tântricos.


O que abandona o desejo insaciável

e não se prende a isto, nem àquilo

percebe o significado real dado nas escrituras.


Em Mahamudra todos os pecados são consumidos;

em Mahamudra está a libertação

dos cárceres desse mundo.

Esse é o supremo archote do Dharma.

Os que não crêem nisso são insensatos,

para sempre chafurdados em sofrimento e tristeza.


Se alguém quer lutar pela libertação,

Precisa confiar num Guru.

Quando a tua mente recebe a bênção dele

A emancipação está próxima.


Ai! Todas as coisas deste mundo são sem sentido,

Não passam de sementes de dor.

Ensinamentos pequenos levam a ações ---

Só se devem seguir os Grandes Ensinamentos.


Transcender a dualidade é visão soberana.

Dominar abstrações é prática régia.

A trilha da não-prática é o caminho de todos os Buddhas.

Quem pisa essa trilha alcança o estado de Buddha.


Transitório é este mundo;

como fantasmas e sonhos, ele não tem substância alguma.

Renuncia a ele, abandona teus parentes,

corta os laços da luxúria e do ódio,

e medita em bosques e montanhas.


Se, sem esforço,

permaneceres desprendidamente em estado natural,

logo Mahamudra conseguirás,

e obterás a não-obtenção.


Corta a raiz das árvores e as folhas murcharão;

corta a raiz da tua mente e samsara tomba.

A luz de qualquer lâmpada dissipa, num momento,

as trevas de longos kalpas;

a luz forte da mente, num simples lampejo,

queimará o véu da ignorância.


Quem quer que se agarre à mente

não vê a verdade que está além da mente.

Quem quer que lute para praticar o Dharma,

não encontra a verdade que está para além da prática,

A fim de saber o que há além da mente e da prática,

é preciso cortar completamente a raiz da mente,

e ficar despido.

Assim, deves afastar-te de todas as distinções

e permanecer tranqüilo.


Não devemos dar nem receber,

mas permanecer natural, porque Mahamudra

está para além de toda aceitação e rejeição.

Já que alaya não é nascida,

ninguém pode obstruí-la ou manchá-la;

conservando-se na região não-nascida

toda aparência se dissolverá em Dharmata

e o egoísmo e o orgulho se desvanecerão em nada.


A suprema compreensão

transcende tudo isto e tudo aquilo.

A suprema ação

contém grande produtividade sem apego.

A suprema realização

é compreender a imanência sem desejo.


De início, o yogui sente que sua mente

se está despencando como uma cascata;

a meio curso, como o Ganga,

ela flui, lenta e suavemente;

ao fim, é um grande, um vasto oceano,

onde as luzes da mãe e do filho fundem-se numa só.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

terça-feira, 12 de junho de 2012

Khronos x Kairós

"Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: Khronos e Kairós. Enquanto Khronos faz referência ao tempo cronológico, sequencial, o tempo que se mede, Kairós é o momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, a experiência do momento oportuno. 

"Vivemos no contexto de Kronos, do tempo linear, o tempo que corre sempre para frente. Observamos a nossa idade avançar, o desenrolar de acontecimentos, mudanças, declínios e ascensões. Este é o tempo de Kronos, sempre implacável: algumas vezes cruel, outras vezes benigno, que dita o nosso tempo de vida. Estamos tão condicionados à necessidade de cumprir as expectativas do tempo imposto pelo relógio, que não nos permitimos ser naturais: tornamo-nos mecanizados pela força do tempo que exige de nós cada vez mais tempo. 

"Kronos nos torna menos humanos e nos torna mais máquinas, porque está sempre ao nosso encalço exigindo pontualidade, estabelecendo ritmos e metas. Máquinas enferrujam enquanto as pessoas envelhecem. Desde pequenos somos condicionados a Kronos para sermos aceitos, Kronos é severo e amedrontador que receamos ser devorados por ele. Pagamos um alto preço para cumprir as normas do tempo, deixamos de ser quem somos, repetimos trabalhos dias após dia até que aposentando, somos arremessados à depressão do nada fazer. 

"Em nossa vida estamos sempre lutando contra o tempo tentando distribui-lo entre as nossas diversas atividades diárias. A sensação de estar perdendo tempo com alguma coisa, seja no trabalho ou em um relacionamento, mostra a nossa preocupação com o tempo que escorre e nos deixa insatisfeitos. É o tempo que utilizamos para atender as expectativas externas e mesmo que queiramos otimizar o tempo, não garante a nossa felicidade. Porque para nos sentirmos felizes, é preciso mais do que usar o tempo com eficiência. 

"Kairós está relacionado à qualidade do tempo vivido, um tempo divino, presente nos momentos especiais e inesquecíveis, que não se perdem no tempo do calendário. Ele flui, vai e retorna, marcando os momentos emocionantes. Refere-se a um instante, ocasião ou momento, que deixa uma impressão forte e única por toda a vida. Por isso, Kairós refere-se a uma experiência atemporal na qual percebemos o momento oportuno em relação à determinada ação. 

"Quantos momentos Kairós deixamos de viver, por estarmos preocupados com o tempo Kronos: o primeiro sorriso de um filho, uma mão estendida no momento oportuno, o abraço confortante no momento de tristeza, um carinho que arranca a tristeza do coração em um momento de infelicidade. São muitos momentos Kairós, que apesar de breves, fazem a diferença. Quantos momentos Kairós são lembrados depois que alguém se foi e, independente do tempo Kronos que tenhamos vivido com essa pessoa, são os momentos Kairós que deixam as lembranças inesquecíveis. 

"São as recordações dos momentos Kairós que nos fazem sentir saudade. Quando estamos vivendo os momentos Kairós queremos que Kronos permaneça imóvel, porque queremos que o tempo pare para eternizar o momento. O momento passado é único mas pode ser revivido quando se fecha os olhos para senti-lo novamente. E por permitir sentir novamente, ele também se relaciona ao ressentimento, que é a face negativa de Kairós. 

"Trazendo o mito de Kairós para o nosso passado, certamente iremos constatar que muitas vezes o tempo das oportunidades se fêz presente e o deixamos escapar. Bons negócios, possibilidades de estudos e relacionamentos, chances de perdão e reconciliação, são algumas das aberturas que ocorreram, que poderiam ter atenuado a implacabilidade de Khronos. Este sempre segue o seu curso, não obstante nossas perdas ou ganhos. 

"Quando vivemos no tempo Kairós aumentam as oportunidades em nossa vida. Basta repensar como surgiram nossas melhores oportunidades: de certa forma, estávamos desprogramados das exigências do tempo cronológico. Para os gregos Kronos representava o tempo que faltava para a morte, um tempo que se consome a si mesmo. Por isso, seu oposto é Kairós: momentos afortunados que transcendem as limitações impostas pelo medo da morte. 

"Sempre que agimos sob o tempo kairós, as coisas costumam dar certo porque sabemos a hora certa de estar no lugar certo. Por exemplo, quando estamos quase desistindo de algo e resolvemos dar um tempo para a pressão, do nada surgem as pessoas certas que nos ajudam com soluções reais e práticas. Agir no tempo regido por Kairós é similar a um ato mágico. Kairos é o tempo oportuno, livre do peso de cargas passadas e sem ansiedade de anteceder o futuro. Ele se manifesta no presente, instante após instante. 

"Esse tempo mágico ou oportuno é um convite para nos despojarmos da razão exagerada, cronológica e voltarmos a brincar com o tempo e vivê-lo com leveza e intensidade. O espírito infantil é livre para aprender, criar e pode resgatar a busca da compreensão da totalidade humana. O arquétipo da eterna criança deve encontrar acolhida em nossos corações para que possamos prosseguir na travessia de nossas vidas, aprendendo sempre ou pelo menos tentando, como um eterno aprendiz."



texto do site: http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2011/08/kairos-o-deus-das-oportunidades.html

domingo, 10 de junho de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Porcelana


sofrer só é nada demais
com memórias que tenho (de) caminhos atrás
percorri o horizonte e sonhei
percebi que maior do que sou já plantei
resolvi mudar...
decidi ser eu mesmo, cansei de lutar
resolvi andar...
comigo, esse jeito, que só Deus irá
entender


queria dizer
se vc me quisesse
ouvir
que a lua surgindo
para o mar 
começar a sorrir
até a imagem do espelho poder refletir
que somos iguais

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Forma Real das Coisas


1. Desde que tudo no mundo é causado pelo concurso das causas e condições, não poderá haver nenhuma distinção básica entre as coisas. As aparentes distinções são criadas pelos absurdos e discriminadores pensamentos dos homens.


No firmamento não há a distinção entre o leste e o oeste; os homens criaram, em suas mentes, esta distinção e a julgam como verdadeira. 


Os números matemáticos, de um ao infinito, são números completos, e nenhum deles guarda em si qualquer distinção de quantidade; mas, para atender a própria conveniência, os homens fazem discriminações e atribuem a cada um dos números uma característica quantitativa.


No universal processo da criação não há, inerentemente, distinções entre o processo da vida e o da extinção, mas os homens fazem uma distinção, chamando a um nascimento e a outro de morte. Paralelamente, não havendo nenhuma discriminação entre o certo e o errado nos atos, os homens fazem uma distinção, para atender a sua tola conveniência.


Buda se afasta desta discriminações e considera o mundo como uma nuvem passageira. Para Buda toda coisa definitiva é mera ilusão; Ele sabe que tudo aquilo ao qual a mente se apega e despreza é sem substancia; assim ele evita as ciladas das aparências e os pensamentos discriminadores.


2. Os homens buscam coisas para satisfazer a própria conveniência e conforto; buscam riquezas e glórias; apegam-se desesperadamente à vida.


Fazem arbitrárias distinções entre a existência e a não existência, entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Os homens fazem da vida um sucessão de apegos e sofreguidão, por este motivo, sentem as ilusões da aflição e sofrimento.


Vejamos uma parábola. Certa vez, um homem, em uma longa viagem, chegou a um rio. Desejando alcançar a margem oposta, que lhe parecia mais suave e segura, construiu com galhos e juncos uma balsa e atravessou com segurança o rio. Alcançando a margem oposta, ele pensou: “Esta balsa me foi muito útil para a travessia do rio; não a deixarei que se apodreça em uma praia qualquer, levá-la-ei comigo.” Assim, voluntariamente, carregou um fardo desnecessário. Pode este homem ser considerado um sábio?


Esta parábola mostra que mesmo as coisas úteis devem ser jogadas fora, quando se tornarem um fardo desnecessário; assim deve ser com as más coisas. Buda faz disso uma norma para evitar vãs e desnecessárias discussões.


3. As coisas não vem nem vão, não aparecem nem desaparecem; portanto, não se obtêm nem se perdem as coisas.


Buda ensina que as coisas não aparecem nem desaparecem, visto que elas transcendem a afirmação ou a negação da existência. Isto é, sendo o resultado da concordância e sucessão de causas e condições, uma coisa não existe em si mesma, por isso pode ser considerada como não-existente. Ao mesmo tempo, relacionando-se com as causas e condições, ela pode ser considerada como não sendo não-existente.


Apegar-se a uma coisa por causa de sua forma é fonte de ilusão. Se não houver o apego à forma, esta falsa imaginação e absurda delusão não ocorrerão. A Iluminação é a sabedoria em ver esta verdade e em evitar tais tolas ilusões.


O mundo é, realmente, como um sonho e seus tesouros são uma sedutora miragem! Como as aparentes distancias num quadro, as coisas não tem realidade em si mesmas, são como uma névoa.


4. Acreditar que as coisas, criadas por uma incalculável série de causas, possam perdurar para sempre é um grave erro; isso se chama a teoria da permanência. Também será um grande erro crer que as coisas desapareçam completamente; isto é o que se chama a teoria da não existência.


Estas características da perenidade da vida e da morte, da existência e da não existência não se aplicam à natureza essencial das coisas, referem-se apenas às suas aparências que são observadas pelos equivocados olhos humanos. Impelidos pelo desejo, os homens se apegam a estas aparências; mas em sua natureza essencial, as coisas estão isentas de discriminações e apegos.


Desde que tudo é criado por uma série de causas e condições, a aparência das coisas está mudando constantemente; isto é, as coisas são inconstantes quanto às suas aparências e constantes quanto à sua autentica substância. Devido a esta constante mudança nas aparências é que comparamos as coisas a uma miragem ou um sonho. Entretanto, apesar desta constante mudança na aparência, as coisas, em sua essencial natureza, são constantes e imutáveis.


Um rio é um rio para um homem, mas para um demônio faminto, que vê fogo na água, pode parecer como fogo. Falar, portanto, a um homem acerca da existência de um rio teria algum nexo, mas para este fabuloso ser não teria nenhum sentido. Da mesma maneira, pode-se dizer que as coisas são como ilusões, não podendo ser consideradas como existentes nem como não existentes.


Além disso, é um erro identificar esta vida efêmera com a imutável vida d verdade. Também não se pode dizer que, ao lado deste mundo de mudanças e aparências, exista outro mundo de constância e verdade. Será erro também considerar este mundo como ilusório ou real.


Os homens, supondo que este seja um mundo real, agem levados por esta absurda suposição. Como este mundo é apenas ilusão, seus atos, fundamentados no erro, somente os conduzem à aflição e ao sofrimento.


Mas um homem sábio, reconhecendo que o mundo é somente ilusão, não age como se ele fosse real, escapando assim do sofrimento.

sábado, 26 de maio de 2012

[...]Roda mundo, roda-gigante, roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante. Nas voltas do meu coração.

Chico Buarque - Roda viva

segunda-feira, 21 de maio de 2012

É que eu estou entediado. 

Como você mesmo disse.

[...] Via-te tão diferente, tão sombria de vez em quando, tão amargurada e triste que pensava mesmo que eu poderia estar te fazendo algum mal; comecei a me preocupar. Aquela mudança toda não parecia ter que acontecer, mesmo que estivesse acontecendo. Alimentei-me daquilo tudo e também me desviei.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Buda


“Fazei vós mesmos uma luz. Confiai em vós mesmos: Não dependais de mais ninguém. Fazei de meus ensinamentos a vossa luz: Confiai neles; não dependais de nenhum outro ensinamento.

“Considerai o vosso corpo, pensai em sua impureza; sabendo que a dor e o prazer são causa de sofrimento, como podeis ser coniventes com seus desejos? Considerai o vosso coração, pensai em sua inconstância, como podeis cair em ilusão e alimentar o orgulho e o egoísmo, sabendo que tudo termina em sofrimento inevitável? Considerai todas as substancias, podeis nelas encontrar algum “eu” duradouro? Não são elas um agregado que mais cedo ou mais tarde se partirá em pedaços e se dispersará? Não vos desconcerteis com a universalidade do sofrimento, segui os meus ensinamentos, mesmo depois de minha morte, e estareis livres do sofrimento. Fazei isso e sereis verdadeiramente meus discípulos.

“Caros discípulos, os ensinamentos que vos dei nunca devem ser esquecidos ou abandonados. Eles deverão ser sempre entesourados, meditados e praticados! Se seguirdes estes ensinamentos, sereis sempre felizes.

“O propósito destes ensinamentos é controlar vossa própria mente. Abandonai a cobiça, e conservareis o corpo íntegro, a mente pura e vossas palavras serão as palavras da verdade. Se nunca esquecerdes o caráter transitório da vida, podereis resistir à ganância, à ira e podereis também evitar todos os males.

“Se vossa mente for seduzida e enredada pela cobiça, deveis dominar e controlar a tentação, sede o senhor de vossa própria mente.

“A mente de um homem pode faze-lo um Buda ou uma fera. Corrompido pelo erro, torna-se um demônio; iluminado, torna-se um Buda. Controlai, portanto, vossa própria mente e não deixeis afastar do caminho correto.

“Com estes ensinamentos, deveis respeitar-vos uns aos outros e abster-vos de disputas; não deveis, como a água e o óleo, repelir-vos mutuamente, deveis, isto sim, como o leite e a água, combinar-vos.

“Estudai juntos, aprendei juntos e praticai juntos estes ensinamentos. - Não desperdiceis vossa mente e tempo com o ódio e com a discórdia. Desfrutai das flores da Iluminação, quando ela a vós se apresentar e colhei os frutos deste caminho correto.

“Os ensinamentos que vos tenho dado, eu os adquiri, seguindo, por mim mesmo, o caminho da Iluminação. Deveis, portanto, segui-los e sujeitar-vos à sua essência em toda ocasião, quando ela a vós se apresentar e colhei os frutos deste caminho correto.

“Se os negligenciais, é porque realmente nunca me encontrastes. Isto significa que estais longe de mim, mesmo que estejais comigo; porém se aceitais e praticais meus ensinamentos, então, estais bem próximo de mim, ainda que vos encontreis distante.

“Caros discípulos, o meu fim está se aproximando, a nossa despedida é iminente, mas não vos lamenteis. A vida está sempre mudando; ninguém pode escapar da dissolução do corpo. Esta transitoriedade vou mostrar agora, com a minha própria morte, com o meu corpo caindo em pedaços como um carro apodrecido.

“Não vos lamenteis inutilmente, mas maravilhai-vos com o princípio da transitoriedade e dele aprendei a vacuidade da vida humana. Não alimenteis vãos desejos de que as coisas mutáveis se tornem imutáveis.

“O demônio das paixões mundanas está sempre procurando ludibriar a vossa mente. Se um víbora morar em vosso quarto, não podereis ter um sono tranqüilo, se não a expulsardes.

“Deveis romper os liames das paixões mundanas e expulsá-las, assim como expulsais a víbora. Deveis, indubitavelmente, proteger o vosso coração.

“Meus discípulos, é chegado o meu derradeiro momento, mas não vos esqueçais de que a morte é apenas o desaparecimento do corpo físico. Este corpo nasce de pais e se mantém com alimentos; por isso, a doença e a morte lhe são inevitáveis.

“Atentai este fato: Buda não é um corpo físico, é a Iluminação. O corpo físico perece, mas a Iluminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma e na prática do Dharma. Aquele que apenas vê o meu corpo não me vê realmente. Somente aquele que aceita meu ensinamento consegue ver-me.

“Depois da minha morte, o Dharma será vosso mestre. Observai o Dharma e sereis fiéis a mim.

“Nestes quarenta e cinco anos de vida, nada ocultei em meu ensinamento. Nele não há segredos, nenhum significado oculto; tudo vos foi aberto e claramente ensinado. Meus caros discípulos, é chegado o fim. Logo estarei entrado no Nirvana. Esta é minha última instrução."

segunda-feira, 7 de maio de 2012

‎"A lei do progresso não se aplica somente ao homem. Ela é universal. Há, em todos os reinos da Natureza, uma evolução que foi reconhecida pelos pensadores de todos os tempos. Desde a célula verde, desde o vago embrião boiando sobre as águas, através de séries variadas, a cadeia das espécies desenrolou-se até nós.

Nesta cadeia, cada elo representa uma forma de existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, mais bem adaptado às necessidade, às crescentes manifestações da vida. Mas, na escala da evolução, o pensamento, a consciência, a liberdade só aparecem depois de muitos degraus. Na planta, a inteligência dorme; no animal, ela sonha; só no homem ela desperta, se reconhece, se possui e se torna consciente. A partir de então, o progresso, de certa forma fatal nas formas inferiores da Natureza, só pode ocorrer pela concordância da vontade humana com as leis eternas.

É por esta concordância, por esta união da razão humana à razão divina, que se edificam as obras preparatórias do reino de Deus, isto é, do reino da Sabedoria, da Justiça, da Bondade, do qual todo ser racional e consciente traz em si a intuição.

Assim, o estudo das leis da evolução, longe de invalidar a espiritualidade do homem, vem, ao contrário, dar-lhe uma nova sanção. Ensina-nos como nosso corpo pode derivar de uma forma inferior pela seleção natural, mas nos mostra, também, que possuímos faculdades intelectuals e morais de uma origem diferente e esta origem nós a encontramos no Universo invisível, no mundo sublime do espírito.

A teoria da evolução tem de ser completada pela percussão, isto é, pela ação das potências invisíveis, que dirigem, estimulam esta lenta e prodigiosa marcha ascencional da vida no globo. O mundo oculto intervém, em determinadas épocas, no desenvolvimento físico da Humanidade, como intervém no âmbito intelectual e moral, pela revelação medianímica. Quando uma raça, tendo atingido seu apogeu, é sucedida por uma raça nova, é racional acreditar que uma família superior de almas encarna entre os representantes da raça exaurida, para fazê-la subir um degrau, renovando-a e confeccionando-a à sua imagem. É o eterno casamento entre o céu e a Terra, a íntima penetração da matéria pelo espírito, a efusão crescente da vida psíquica na forma em processo de evolução."



Léon Denis

domingo, 15 de abril de 2012

Mazelas...

[...] Eu não nasci pra literatura. Tenho que ser falso comigo mesmo para que tenha alguma chance de poder agradar o leitor. Nem sou tão esperto quanto pareço!, pois pareço não conseguir terminar nada do que começo – o que me parece burrice. Meu ar é depressivo; não sei falar da felicidade. Como se falar de algo que nunca vivi? Impossível também me agradar a mim mesmo. Sou um mentiroso... E permaneço preso às mentiras que acabo criando. Sou papéis. Ora um papel eu tomo, ora outro. Sou diferente conforme a pessoa que se encontra comigo. Influenciável... Influente? Não; não ajo como eu ajo quando estou sozinho. Nunca estou sozinho. Quem sou eu? (Um escritor.)