quarta-feira, 30 de maio de 2012

Porcelana


sofrer só é nada demais
com memórias que tenho (de) caminhos atrás
percorri o horizonte e sonhei
percebi que maior do que sou já plantei
resolvi mudar...
decidi ser eu mesmo, cansei de lutar
resolvi andar...
comigo, esse jeito, que só Deus irá
entender


queria dizer
se vc me quisesse
ouvir
que a lua surgindo
para o mar 
começar a sorrir
até a imagem do espelho poder refletir
que somos iguais

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Forma Real das Coisas


1. Desde que tudo no mundo é causado pelo concurso das causas e condições, não poderá haver nenhuma distinção básica entre as coisas. As aparentes distinções são criadas pelos absurdos e discriminadores pensamentos dos homens.


No firmamento não há a distinção entre o leste e o oeste; os homens criaram, em suas mentes, esta distinção e a julgam como verdadeira. 


Os números matemáticos, de um ao infinito, são números completos, e nenhum deles guarda em si qualquer distinção de quantidade; mas, para atender a própria conveniência, os homens fazem discriminações e atribuem a cada um dos números uma característica quantitativa.


No universal processo da criação não há, inerentemente, distinções entre o processo da vida e o da extinção, mas os homens fazem uma distinção, chamando a um nascimento e a outro de morte. Paralelamente, não havendo nenhuma discriminação entre o certo e o errado nos atos, os homens fazem uma distinção, para atender a sua tola conveniência.


Buda se afasta desta discriminações e considera o mundo como uma nuvem passageira. Para Buda toda coisa definitiva é mera ilusão; Ele sabe que tudo aquilo ao qual a mente se apega e despreza é sem substancia; assim ele evita as ciladas das aparências e os pensamentos discriminadores.


2. Os homens buscam coisas para satisfazer a própria conveniência e conforto; buscam riquezas e glórias; apegam-se desesperadamente à vida.


Fazem arbitrárias distinções entre a existência e a não existência, entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Os homens fazem da vida um sucessão de apegos e sofreguidão, por este motivo, sentem as ilusões da aflição e sofrimento.


Vejamos uma parábola. Certa vez, um homem, em uma longa viagem, chegou a um rio. Desejando alcançar a margem oposta, que lhe parecia mais suave e segura, construiu com galhos e juncos uma balsa e atravessou com segurança o rio. Alcançando a margem oposta, ele pensou: “Esta balsa me foi muito útil para a travessia do rio; não a deixarei que se apodreça em uma praia qualquer, levá-la-ei comigo.” Assim, voluntariamente, carregou um fardo desnecessário. Pode este homem ser considerado um sábio?


Esta parábola mostra que mesmo as coisas úteis devem ser jogadas fora, quando se tornarem um fardo desnecessário; assim deve ser com as más coisas. Buda faz disso uma norma para evitar vãs e desnecessárias discussões.


3. As coisas não vem nem vão, não aparecem nem desaparecem; portanto, não se obtêm nem se perdem as coisas.


Buda ensina que as coisas não aparecem nem desaparecem, visto que elas transcendem a afirmação ou a negação da existência. Isto é, sendo o resultado da concordância e sucessão de causas e condições, uma coisa não existe em si mesma, por isso pode ser considerada como não-existente. Ao mesmo tempo, relacionando-se com as causas e condições, ela pode ser considerada como não sendo não-existente.


Apegar-se a uma coisa por causa de sua forma é fonte de ilusão. Se não houver o apego à forma, esta falsa imaginação e absurda delusão não ocorrerão. A Iluminação é a sabedoria em ver esta verdade e em evitar tais tolas ilusões.


O mundo é, realmente, como um sonho e seus tesouros são uma sedutora miragem! Como as aparentes distancias num quadro, as coisas não tem realidade em si mesmas, são como uma névoa.


4. Acreditar que as coisas, criadas por uma incalculável série de causas, possam perdurar para sempre é um grave erro; isso se chama a teoria da permanência. Também será um grande erro crer que as coisas desapareçam completamente; isto é o que se chama a teoria da não existência.


Estas características da perenidade da vida e da morte, da existência e da não existência não se aplicam à natureza essencial das coisas, referem-se apenas às suas aparências que são observadas pelos equivocados olhos humanos. Impelidos pelo desejo, os homens se apegam a estas aparências; mas em sua natureza essencial, as coisas estão isentas de discriminações e apegos.


Desde que tudo é criado por uma série de causas e condições, a aparência das coisas está mudando constantemente; isto é, as coisas são inconstantes quanto às suas aparências e constantes quanto à sua autentica substância. Devido a esta constante mudança nas aparências é que comparamos as coisas a uma miragem ou um sonho. Entretanto, apesar desta constante mudança na aparência, as coisas, em sua essencial natureza, são constantes e imutáveis.


Um rio é um rio para um homem, mas para um demônio faminto, que vê fogo na água, pode parecer como fogo. Falar, portanto, a um homem acerca da existência de um rio teria algum nexo, mas para este fabuloso ser não teria nenhum sentido. Da mesma maneira, pode-se dizer que as coisas são como ilusões, não podendo ser consideradas como existentes nem como não existentes.


Além disso, é um erro identificar esta vida efêmera com a imutável vida d verdade. Também não se pode dizer que, ao lado deste mundo de mudanças e aparências, exista outro mundo de constância e verdade. Será erro também considerar este mundo como ilusório ou real.


Os homens, supondo que este seja um mundo real, agem levados por esta absurda suposição. Como este mundo é apenas ilusão, seus atos, fundamentados no erro, somente os conduzem à aflição e ao sofrimento.


Mas um homem sábio, reconhecendo que o mundo é somente ilusão, não age como se ele fosse real, escapando assim do sofrimento.

sábado, 26 de maio de 2012

[...]Roda mundo, roda-gigante, roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante. Nas voltas do meu coração.

Chico Buarque - Roda viva

segunda-feira, 21 de maio de 2012

É que eu estou entediado. 

Como você mesmo disse.

[...] Via-te tão diferente, tão sombria de vez em quando, tão amargurada e triste que pensava mesmo que eu poderia estar te fazendo algum mal; comecei a me preocupar. Aquela mudança toda não parecia ter que acontecer, mesmo que estivesse acontecendo. Alimentei-me daquilo tudo e também me desviei.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Buda


“Fazei vós mesmos uma luz. Confiai em vós mesmos: Não dependais de mais ninguém. Fazei de meus ensinamentos a vossa luz: Confiai neles; não dependais de nenhum outro ensinamento.

“Considerai o vosso corpo, pensai em sua impureza; sabendo que a dor e o prazer são causa de sofrimento, como podeis ser coniventes com seus desejos? Considerai o vosso coração, pensai em sua inconstância, como podeis cair em ilusão e alimentar o orgulho e o egoísmo, sabendo que tudo termina em sofrimento inevitável? Considerai todas as substancias, podeis nelas encontrar algum “eu” duradouro? Não são elas um agregado que mais cedo ou mais tarde se partirá em pedaços e se dispersará? Não vos desconcerteis com a universalidade do sofrimento, segui os meus ensinamentos, mesmo depois de minha morte, e estareis livres do sofrimento. Fazei isso e sereis verdadeiramente meus discípulos.

“Caros discípulos, os ensinamentos que vos dei nunca devem ser esquecidos ou abandonados. Eles deverão ser sempre entesourados, meditados e praticados! Se seguirdes estes ensinamentos, sereis sempre felizes.

“O propósito destes ensinamentos é controlar vossa própria mente. Abandonai a cobiça, e conservareis o corpo íntegro, a mente pura e vossas palavras serão as palavras da verdade. Se nunca esquecerdes o caráter transitório da vida, podereis resistir à ganância, à ira e podereis também evitar todos os males.

“Se vossa mente for seduzida e enredada pela cobiça, deveis dominar e controlar a tentação, sede o senhor de vossa própria mente.

“A mente de um homem pode faze-lo um Buda ou uma fera. Corrompido pelo erro, torna-se um demônio; iluminado, torna-se um Buda. Controlai, portanto, vossa própria mente e não deixeis afastar do caminho correto.

“Com estes ensinamentos, deveis respeitar-vos uns aos outros e abster-vos de disputas; não deveis, como a água e o óleo, repelir-vos mutuamente, deveis, isto sim, como o leite e a água, combinar-vos.

“Estudai juntos, aprendei juntos e praticai juntos estes ensinamentos. - Não desperdiceis vossa mente e tempo com o ódio e com a discórdia. Desfrutai das flores da Iluminação, quando ela a vós se apresentar e colhei os frutos deste caminho correto.

“Os ensinamentos que vos tenho dado, eu os adquiri, seguindo, por mim mesmo, o caminho da Iluminação. Deveis, portanto, segui-los e sujeitar-vos à sua essência em toda ocasião, quando ela a vós se apresentar e colhei os frutos deste caminho correto.

“Se os negligenciais, é porque realmente nunca me encontrastes. Isto significa que estais longe de mim, mesmo que estejais comigo; porém se aceitais e praticais meus ensinamentos, então, estais bem próximo de mim, ainda que vos encontreis distante.

“Caros discípulos, o meu fim está se aproximando, a nossa despedida é iminente, mas não vos lamenteis. A vida está sempre mudando; ninguém pode escapar da dissolução do corpo. Esta transitoriedade vou mostrar agora, com a minha própria morte, com o meu corpo caindo em pedaços como um carro apodrecido.

“Não vos lamenteis inutilmente, mas maravilhai-vos com o princípio da transitoriedade e dele aprendei a vacuidade da vida humana. Não alimenteis vãos desejos de que as coisas mutáveis se tornem imutáveis.

“O demônio das paixões mundanas está sempre procurando ludibriar a vossa mente. Se um víbora morar em vosso quarto, não podereis ter um sono tranqüilo, se não a expulsardes.

“Deveis romper os liames das paixões mundanas e expulsá-las, assim como expulsais a víbora. Deveis, indubitavelmente, proteger o vosso coração.

“Meus discípulos, é chegado o meu derradeiro momento, mas não vos esqueçais de que a morte é apenas o desaparecimento do corpo físico. Este corpo nasce de pais e se mantém com alimentos; por isso, a doença e a morte lhe são inevitáveis.

“Atentai este fato: Buda não é um corpo físico, é a Iluminação. O corpo físico perece, mas a Iluminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma e na prática do Dharma. Aquele que apenas vê o meu corpo não me vê realmente. Somente aquele que aceita meu ensinamento consegue ver-me.

“Depois da minha morte, o Dharma será vosso mestre. Observai o Dharma e sereis fiéis a mim.

“Nestes quarenta e cinco anos de vida, nada ocultei em meu ensinamento. Nele não há segredos, nenhum significado oculto; tudo vos foi aberto e claramente ensinado. Meus caros discípulos, é chegado o fim. Logo estarei entrado no Nirvana. Esta é minha última instrução."

segunda-feira, 7 de maio de 2012

‎"A lei do progresso não se aplica somente ao homem. Ela é universal. Há, em todos os reinos da Natureza, uma evolução que foi reconhecida pelos pensadores de todos os tempos. Desde a célula verde, desde o vago embrião boiando sobre as águas, através de séries variadas, a cadeia das espécies desenrolou-se até nós.

Nesta cadeia, cada elo representa uma forma de existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, mais bem adaptado às necessidade, às crescentes manifestações da vida. Mas, na escala da evolução, o pensamento, a consciência, a liberdade só aparecem depois de muitos degraus. Na planta, a inteligência dorme; no animal, ela sonha; só no homem ela desperta, se reconhece, se possui e se torna consciente. A partir de então, o progresso, de certa forma fatal nas formas inferiores da Natureza, só pode ocorrer pela concordância da vontade humana com as leis eternas.

É por esta concordância, por esta união da razão humana à razão divina, que se edificam as obras preparatórias do reino de Deus, isto é, do reino da Sabedoria, da Justiça, da Bondade, do qual todo ser racional e consciente traz em si a intuição.

Assim, o estudo das leis da evolução, longe de invalidar a espiritualidade do homem, vem, ao contrário, dar-lhe uma nova sanção. Ensina-nos como nosso corpo pode derivar de uma forma inferior pela seleção natural, mas nos mostra, também, que possuímos faculdades intelectuals e morais de uma origem diferente e esta origem nós a encontramos no Universo invisível, no mundo sublime do espírito.

A teoria da evolução tem de ser completada pela percussão, isto é, pela ação das potências invisíveis, que dirigem, estimulam esta lenta e prodigiosa marcha ascencional da vida no globo. O mundo oculto intervém, em determinadas épocas, no desenvolvimento físico da Humanidade, como intervém no âmbito intelectual e moral, pela revelação medianímica. Quando uma raça, tendo atingido seu apogeu, é sucedida por uma raça nova, é racional acreditar que uma família superior de almas encarna entre os representantes da raça exaurida, para fazê-la subir um degrau, renovando-a e confeccionando-a à sua imagem. É o eterno casamento entre o céu e a Terra, a íntima penetração da matéria pelo espírito, a efusão crescente da vida psíquica na forma em processo de evolução."



Léon Denis