terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Acrópole – mais uma busca frustrada.


Acrópole – mais uma busca frustrada.
Tudo está dentro do homem e é inútil procurar salvação longe de si mesmo”


A busca de nosso amigo Ricardo do Vale por alguma coisa que some conhecimento e sabedoria à sua vida terminou numa noite completamente estapafúrdia neste sábado passado.
À tarde, Ricardo foi a uma capela católica que julgava “o lugar do meu Eu Original” porque nascera no quartel onde fica a capela. Entre músicas animadinhas e jovens falando pelos cotovelos Ricardo não ficou um minuto a mais ali – saiu, alegre, escutando Killers – vou beber.


A Acrópole da filosofia
15/11/08 Sáb. Blues 9:04
Simplesmente, após ir a uma capela católica e me decepcionar comigo mesmo e não com a igreja e seus pupilos adolescentes que fazem crisma e secretamente se masturbam até subirem pelas paredes...


Ele jantou muito bem e saiu, escutando Sepultura. Jamais abandonaria sua fé. Fora expulso de uma igreja na qual trabalhou ardentemente durante 10 anos de sua vida. Expulso porque “você não pensa como nós”. O ótimo foi que Ricardo não trabalhava para as pessoas. Nem para si. Para quem então? Para a Mãe, ainda que naquela época a conhecesse pelo nome de Pai.
Andou na praia. Comprou uma garrafa de vinho Country Wine, personagem célere de seu primeiro romance, Miriam.
E começou a beber o delicioso vinho.


... fui a uma Acrópole – enfim, uma Escola de Filosofia – cursos de Filosofia e Sabedoria Pura, como estudar, como ler.
Ao entrar, me deparei com um jardim, mais parecido com os jardins de Epicuro – fontes, plantas – e estátuas as mais diversas. Ultrapassados os Umbrais deste Templo do Conhecimento, me deparo com uma cesta de revistas, panfletos, papéis sobre Sabedoria – tudo PAGO. Frustrei-me. Esta, a Sabedoria, paga?!
Uma mulher me recebeu, a Mestra, aparentemente masculinizada ...


Quando a Lua saiu Ricardo realizou mais um sonho de sua vida – ver a lua cheia nascer. Nutrira este sonho durante anos a fio, desde que vira a Lua cheia no final de uma tarde, casualmente.
Enquanto a Lua nascia, ele se rejubilava – e se entupia de vinho, julgando-se um mago. E por que não?
“Eu sou um bruxo, enfim”, pensou. “Um Mago”. Tentara as religiões, mas nada. Como percebera que estava entrando em mais uma crise de loucura, tentou amenizar e disse: “Não sou bruxo. Que é um bruxo? Os wiccanos certamente fazem a mesma coisa que se faz nas igrejas pelas quais passei: se reúnem para conversar banalidades e fazer rituais. O que eu sou então? Eu sou.”
“O Universo é a minha igreja.”
A estas alturas, a Mestra, as fontes epicuristas, aquele templo feito de tenda de praia, a piscina com inscrições de Buda e os saquinhos de chá pareciam elementos distantes de outro mundo.
Foi quando ele viu o Sinal.


- Já deu seu e-mail? – disse a mulher masculinizada.
Prudentemente não dei o e-mail. Observei as revistas cozinha água chás piscina estátuas filosóficas mangueirinhas e até máscaras – e os ouvintes, quase todas mulheres loiras, botox, sorrisos artificiais, buscando algo, uma resposta – que jamais será encontrada e infinitamente menos num Curso de Filosofia Prática onde o lema interessantíssimo é: HOUVE UM TEMPO EM QUE A FILOSOFIA ERA PRÁTICA... ESSE TEMPO VOLTOU.
A submestra nos homenageou com 4 ininterruptas poesias falando da Beleza.Eu tenho absoluta certeza de que as pessoas que vivem falando de beleza em poesia são completamente frustradas porque gostariam de namorar alguém a quem nunca dirigiram uma palavra. Pode ser um julgamento, mas julgo primeiro a mim porque eu vivi 15 anos neste estado patético.
A entonação da submestra, seu Desejo, era tão premente que algumas das mulheres presentes sorriam, ainda que de forma patética ou mesmo incitada pelo Prozac.


Uma coruja branca parou diante de Ricardo e ficou estática no ar. Havia então a Lua, que a estas alturas estava bela, e a coruja. Era o Sinal.


Um sinal é uma coincidência. É apenas outro nome para coincidência; neste caso, um nome espiritualizado. Se tudo é Acaso, louvemos a este Deus – o Acaso – que é capaz de fazer uma coruja parar na frente de um ser humano (bêbado) e (corta).
Ele andou, foi pro blues e sentou numa mesa para escrever. Após escrever algo sobre a palhaçada na Escola de Sabedoria, continuou:



A Mestra entrou. Seu sorriso era benzodiazepínico, seu cabelo, preto, e sua roupa baixoautoestímica. Ela entrou – após a sessão inesgotável de poesias das Musas Gregas evocando deusas que não existem no entanto na mente de um(a) filósofo(a) existem – e deu a sentença.
- Falaremos sobre Buda.
Ela tinha cara de quem estava pensando em QUALQUER coisa – sei lá, na filha que saiu e gritou, no marido inorgástico, na péssima imagem de seu templo filosófico – MENOS EM BUDA. Seu interesse era zero.
A Mestra, que na verdade era Psicóloga, discorreu de forma resumida a história de Gautama – uma história que as pessoas adoram ler, falar, comentar, dissecar com seus palavrórios inúteis, MENOS PRATICAR. Falou, adaptou, disse que tirássemos lições para nós – em outras palavras, não precisa levar isso a sério demais, aproveite alguma coisa pra não pirar e para sair da depressão matinal –“sem levar a sério demais”.
Eu levantei e fui embora comprar uma garrafa de vinho.


Andou, foi pro blues, bebeu uma Heineken, jogou xadrez com um rapaz de 19 anos absolutamente educado, gentil e nobre. O rapaz, vendo que Ricardo fora “humilhado pelo meu professor de xadrez quando eu tinha 15 anos e” (melodrama inconsciente) passou gentilmente a ensinar-lhe algumas jogadas e depois chamou-o para junto de seus amigos para jogar sinuca. Ricardo não foi. Foi para o balcão. Segundo sua sabedoria deliróide, ficar no balcão era símbolo de que “Ele vai ver que não estou na cola dele”. Comentários à parte, Ricardo encheu a cara e com a maior naturalidade deu um papel com nome telefone e msn ao rapaz, que recebeu gentilmente. Ainda existem cavalheiros neste mundo enfim.
- Eu vou me suicidar!!! – disse Ricardo a Cronos. A estas alturas ele estava absolutamente bêbado.
Cronos ficou preocupado, até por causa do “histórico” de Ricardo com problemas pessoais, mas sorriu, pois sabia exatamente o que estava acontecendo – Ricardo estava sendo ele mesmo. Já não era o “mestre” que dá lições a todo mundo, sentando de forma bipolar no meio de uma pista movimentada ou lendo livros depressivos no inverno. Era o Ricardo original, cheio de dúvidas, medos e conflitos; um ser humano!
Ricardo nunca quis ser mestre de ninguém. Nem seguir mestre algum. Mas, no fundo de seu ser, queria ensinar aos integrantes do Nya a seguinte lição: o que você sabe, pratique, senão seu conhecimento se voltará contra você e o dilacerará.
Enchera o saco. Vira na igreja, durante anos a fio, os pastores pregando coisas que nem eles nem os outros vivem. Passara então a viver uma vida de risco, dando até seu MSN a um rapaz que sequer conhece. Mas ele tem uma capacidade incrível de ver a aura dos outros.
“Ninguém sabe quem é ninguém”.
Mentira.
Conhecemos as pessoas pelo que falam, comem, bebem, pelos lugares que freqüentam, e principalmente pela forma como tratam os pais.
As mentiras religiosas dilaceraram Ricardo a ponto de ele entrar num colapso nervoso. Ele não entendia como poderia vir a ser puro e, neste transtorno bipolar espiritual, oscilava do libertino ao santo tantas vezes que a coisa já virara uma piada barata.
Retornara ao catolicismo, cristais, magia, budismo, enfim, nada o satisfazia.
Porque ele já estava satisfeito.
Mas você tem que ter mais. A ambição espiritual de Ricardo nunca foi pelo Poder. Teve três experiências sobrenaturais, que serão relatadas na hora certa. Mas ele só queria o Dom Supremo. O Amor. E queria externar este amor na igreja. Externou. E foi excomungado.
Porque é melhor gritar, odiar e comer vivo o outro. Mas amar é pecado, sujeira.
- Eu vou me suicidar!!!
Cronos deu-lhe água, ele nem sabia o que estava fazendo, e vomitou. Após vomitar, deu um belo discurso, bem coerente até, e foi aos trancos para casa – não sabe sequer como caiu na cama.


XXXIII DOM. COMUM (Cor Verde, I semana do saltério)


Ricardo do Vale

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