sábado, 15 de outubro de 2011

Fugindo do assunto.O que é a matéria?

O que é a matéria?

Por Proteus IV

Essa é uma das perguntas que atormentam os pensadores ao longo dos séculos, então os americanos propuseram uma frase bem-humorada que expressa bem o estado das coisas: “Matter is the stuff of the Universe” (A matéria é o recheio do Universo).

Mas e do ponto de vista científico? Afinal, a humanidade caminhou na Lua e criou computadores que fazem cálculos tão rápidos que nos deixam atordoados com a velocidade. Já clonamos mamíferos, sabemos como vaporizar cidades inteiras com uma bomba de hidrogênio, ou seja, um verdadeiro Lúcifer tecnológico. Mesmo assim, nos deparamos com a pergunta que cala...

O que é matéria?

Vamos viajar... Nas locadoras, num canto esquecido, ainda podemos encontrar episódios da famosa série “Cosmos”, criada pelo agora saudoso Carl Sagan. Num dos episódios, Sagan comenta sobre a noção de átomo tomando como recurso de linguagem uma alegoria semelhante a esta:

“Suponha que tomemos esta maçã e, com uma faca que possa cortar tão fino quanto quisermos, a partimos ao meio. Depois, tomemos uma das metades e cortemos novamente ao meio. Assim, sucessivamente, vai surgir um momento em que não poderemos cortar mais... Chegamos ao átomo da maçã! Assim devem ter pensado Leucipo, Demócrito...”

Sim! Os gregos clássicos, apesar de escravocratas, dedicavam seu full time à arte de pensar. Até hoje, nomes como Pitágoras, Anaxágoras, Demócrito e Leucipo parecem gigantes a nos olhar por cima. Eles foram os primeiros a pensar na nossa pergunta “O que é a matéria ?”, além da teoria dos quatro elementos. Também conseguiram através do pensamento puro chegar à noção de átomo ( = indivisível) como o bloco elementar de construção da matéria!

Exatamente, eles propuseram uma resposta: a matéria é composta de blocos elementares. Tudo é feito de átomos, tudo isso muitos séculos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo. Voltando nossos olhos para o rio do tempo, vemos parte da humanidade mergulhar em séculos de obscurantismo intelectual: a idade média (também conhecida por alguns historiadores extremistas como a idade das trevas!).

As investigações intelectuais sobre o que nós chamamos hoje de física ficam adormecidas num sonho secular e voltam à vida nas figuras do Renascimento Europeu com Leonardo da Vinci, um dos polímatas mais famosos do mundo ocidental.

Século XVII: o gênio de Sir Isaac Newton assombra o mundo com o seu famosíssimo “Princípia”. Newton finalmente consegue com que o mundo ocidental perca o complexo de inferioridade perante os gregos clássicos. E o lance da matéria?

Calma, sô! Eu chego lá!

Mesmo com Newton, as investigações sobre a intimidade microscópica não renascem, apesar de ele ter sido um obcecado pelo problema e ter enlouquecido com o envenenamento por chumbo (era um alquimista e provava todas as misturas que fazia...).

Século XVIII: finalmente, um químico inglês chamado John Dalton retoma o problema e propõe o seguinte modelo: átomos são pequeninas esferas maciças, indestrutíveis, que são os componentes, os blocos elementares de tudo o que vemos à nossa volta.

No mesmo século, Thompson é mais radical e diz que os átomos são feitos de uma massa compacta e, com pequenas partículas grudadas, os elétrons. Esse é o chamado modelo do pudim de passas de Thompson.

Neste mesmo século, Mendeleiev publica sua famosa tabela periódica dos elementos. Agora os “blocos elementares” (os átomos!) já começam a preencher uma tabela... Hehehe!

Século XX: o viciado em ópio Rutherford (com as bênçãos de sua Majestade, como diziam os Sex Pistols, “God save the queennn”...), através de uma longa seqüência de experiências afirma que o átomo é como um sistema planetário em miniatura, com um núcleo pesado ao centro e os elétrons girando ao seu redor.

Década de 20: os gênios Erwin Schroedinguer e Heisenberg “desmaterializam” a matéria. Os átomos são entidades duais. São ao mesmo tempo partícula e onda, a equação matemática que descreve a matéria é uma entidade altamente não intuitiva (as equações de onda de Schoroedinguer e a álgebra de operadores de Heisenberg). Coisas estranhas ocorrem no abismo dimensional quântico: tunelamento, teletransporte (efeito EPR), condensado de Bose Einstein. A equação de Paul Adrien Maurice Dirac diz que existe a antimatéria!

Avancemos mais ainda... Americanos começam a construir os chamados “aceleradores” de partículas. Nessas máquinas, partículas são aceleradas a velocidades próximas à da luz até se chocarem liberando um show pirotécnico. E, desse show, surge um zoológico de partículas!

Os componentes do átomo, que já eram muitos no mundo de Mendeleiev, agora se despedaça mostrando novas estruturas inesperadas. Essas estruturas também formam novas tabelas: mésons, neutrinos, lambdas...

E hoje, mesmo com o modelo dos quarks (o átomo “fashion”), a tabela ainda permanece, isso sem contar com as tentativas de unir gravitação e mecânica quântica. Mas essa é uma outra história.

E agora? O que é a matéria? Diante de tudo isso, a frase mais humilde e sincera que eu conheço veio do venerável José Leite Lopes (um exilado do período militar que trabalha até hoje na França), numa palestra sobre física fundamental:

“O que é a matéria, professor?” (aluno) “Meu filho, sinceramente, eu não sei!” (José Leite Lopes)

Proteus_IV | http://www.geek.com.br/modules/secoes/ver.php?id=235&sec=58

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